Tema 1 - Educação Digital e Ecossistemas de Aprendizagem em Rede
Reflexões pessoais em torno de ambientes virtuais
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O 1.º tema da UC de Ambientes Virtuais de Aprendizagem, designado “Educação Digital e Ecossistemas de Aprendizagem em Rede”, provocaram-me a reflexão sobre
Que olhar crítico devo ter sobre o cenário de aprendizagem em ambiente virtual que desenvolvi em tempo de encerramento das escolas?
Regresso a março de 2020, data que constitui um marco na medida em que o encerramento das escolas lançou toda a comunidade para um período de reinvenção, em que, talvez, os mais capacitados tecnologicamente tenham estado em vantagem.
Resgato um texto que escrevi na época (abril de 2020) e que aqui partilho, certa que o e-portefólio é também um espaço de registo pessoal…
Confissões de uma professora em confinamento em 15 pontos:
- Apropriei-me de expressões que me eram vagamente familiares, webinars, classrooms, meets, zooms…
- Li e participei em tutoriais, que vi, parei, voltei atrás, voltei a ver, voltei a parar, recomecei para ir vendo e fazendo o que diziam, parei, voltei atrás... bolas... porque é que é tão fácil nos tutoriais?! Mas senti-me uma vencedora, uma maratonista olímpica de medalha de ouro, pelo menos.
- Criei classrooms, uma por cada turma para a minha disciplina e convidei as DT. Agora é aguardar que os alunos aceitem o meu convite. Mas a maioria não me liga! Tenho de insistir enviando mais mails aos DT, suplicar aos alunos inscritos que digam aos outros para aceitarem o convite no classroom. Pode ser que no início da próxima semana já tenha todos! Sinto-me uma otimista irritante!
- Fiz ontem uma experiência no meet com alunos e contive o grito quando os vi do outro lado. Senti-me uma psicanalista a ouvi-los divagar sobre a saudade de acordar às 6 horas para apanhar um comboio de Monte Gordo até Faro para estudar. Sobre a falta do outro, do colega, do professor, das aulas. Acho que quando regressarmos à escola eles, os alunos, terão uma atitude diferente, mais cooperante, mais participativa, valorizarão mais o professor e a escola! Lá estou eu a ser uma otimista irritante!
- Os pais e encarregados de educação da minha DT têm sido compreensivos, cooperantes, atentos… quase todos estão presentes. Esta é uma vitória atendendo ao reduzido número que aparecia nas reuniões.
- Estou munida do essencial para daqui a pouco participar em meets de diversos conselhos de turma que começaram a ser marcados. Do meu também, pois claro. Já convidei todos os colegas da minha DT. Vamos ver se eles conseguem ver no meio de tantos mails que recebemos. Tenho falado com alguns, sentem o mesmo que eu, uma saudade imensa da escola.
- Os webinars deram-me pistas para recursos digitais. Estou a estudá-los para criar. O formulário google tem sido o meu melhor amigo. Dá trabalho, muito trabalho, mas o feedback e a correção são tão fáceis e rápidos! Recuso-me, pelo menos por enquanto, a digitalizar inúmeras fichas de uma editora (atenção que têm feito um trabalho excelente no apoio e produção de materiais novos) e a colocar no classroom, dizendo… façam durante a semana!
- Esqueço as planificações, (tão bonitas!) para as saudosas aulas presenciais. Crio novas com tarefas concretas e objetivas sempre seguidas de uma atividade de avaliação. Entretanto as editoras começaram a enviar propostas de planificações. Que grande ajuda! É pena não fazerem para a disciplina que leciono: História da Cultura e das Artes.
- O meu ginásio, e todos os outros, fechou! Atrevi-me a fazer uns treinos à frente da televisão nas aulas virtuais que estão a criar mas o pensamento estava no que tinha ainda que fazer no computador. Confesso que até tenho saudades daqueles odores desagradáveis de quem usa no ginásio, mais do que uma vez, uma camisola sintética cuja publicidade diz que é impermeável ao cheiro. O tanas!!! Eu bem os sentia quando entravam.
- Tenho um relógio moderno que vibra no pulso quando estou mais de 1 hora sentada ao computador. Mas não sinto a vibração, estou agarrada, viciada nos webinars, nas ferramentas, no messenger com alunos … Que same anzkakxks, anxnsjx, #qualquer coisa, meme,…o que vou aprendendo! Até já coloco emojis variados em quase todas as frases.~
- Como mais doces, devoro bolachas, chocolates, rebuçados, gomas e sei lá mais o quê! Na falta de pessoas refugio-me no açúcar. Sabe bem e pronto!
- Doem-me o ombro e o braço direitos. Deve ser de teclar! As pontas dos dedos estão doridas, não de todos é certo, são só os pobres dos indicadores e o polegar direito que vai à tecla do espaço. Os outros ainda não se queixam. Estou sentada tantas horas que uma parte do meu corpo fundiu-se com a cadeira, são o mesmo, o mesmo corpo informe.
- As letras do meu teclado estão a desaparecer. Troco os “m” e os “n”, que estão ao lado, com frequência. Gostava de ser como colegas que escrevem sem olhar para o teclado, só para o écran. Bem me esforço, mas não consigo e perco tempo a corrigir os erros.
- Fiquei sem net, sem ligação! Frustração! Clico selvaticamente em vários botões e sigo as instruções. Desligo modem, reinicio computador… ok, volto a reiniciar, e mais uma vez, e outra. Sinto-me tentada a ligar a um colega de informática. Quem é que vou chatear? Espera, é desta! Consegui! Já tenho net! Passou 1 hora… onde é que eu ia, o que é que estava a fazer? A net está lenta, muito lenta. Grito para a família! Tenho 2 estudantes universitários a ter aulas no zoom, a descarregar lições… assim não dá!!! O PC está velho. Felizmente tinha comprado uma câmara para uma ação de formação totalmente no sistema e-learning. Mas o PC de 6, 7 anos, precisa de ser substituído. Ainda bem que “lá em cima” também estão preocupados com os recursos dos professores!
- SOCORRO! Venha maio! Tenho 2 turmas que talvez queiram fazer exame de História da Cultura e das Artes como prova de ingresso à universidade. Sinto-me uma felizarda por lecionar uma das 22 disciplinas.
VOU VOLTAR À ESCOLA!
VAI FICAR TUDO BEM!
O que aconteceu neste 1.º período de encerramento das escolas?
a pandemia, está a gerar a obrigatoriedade, e, simultaneamente, a oportunidade dos professores e estudantes emergirem nesta Educação Digital, especialmente, nos cenários e realidades dos ambientes digitais de ensino e aprendizagem síncronos e assíncronos. Mas o que parece estar a acontecer, neste momento de emergência, é a transferência e a transposição das metodologias e práticas pedagógicas presenciais físicas para os ambientes digitais online. (Moreira, J.A.&Schlemmer, E., 2020, p. 24).
Perspetivo agora que estivemos numa fase de “ensino remoto de emergência” enquanto migração forçada para a realidade online, transferindo e transpondo metodologias e práticas pedagógicas típicas dos territórios físicos de aprendizagem. (Moreira, J.A.&Schlemmer, E., 2020, p. 24)
Chamámos a esse período Educação à distância, como que ancorada numa 1ª geração tecnológica, com o correio eletrónico a substituir o ensino por correspondência, ou o #EstudoEmCasa a relembrar-nos a 2ª geração tecnológica, o tempo do tele-ensino. Para muitos outros foi o 1.º encontro com uma geração tecnológica em rede,
Esta é a geração das teleconferências por áudio, vídeo e computador. Está baseada no uso do computador e da internet.O aparecimento e a generalização da internet possibilitam a distribuição de material de forma rápida, numa lógica de hipertexto, fomentando novos canais de comunicação, como fóruns eletrónicos, chats, blogues e as videoconferências, que tornam frequente a comunicação professor-aluno e aluno-aluno gerando uma nova forma de aprendizagem em rede (Gomes, 2008, p. 192).
Estaremos corretos na utilização do termo Educação a Distância?
processo que enfatiza a construção e a socialização do conhecimento; a operacionalização dos princípios e fins da educação, de forma que qualquer pessoa, independentemente do tempo e do espaço, possa tornar-se agente de sua aprendizagem, devido ao uso de materiais diferenciados e meios de comunicação, que permitam a interatividade (síncrona ou assíncrona) e o trabalho colaborativo/cooperativo. (Moreira, J.A.&Schlemmer, E., 2020, p. 14).
Presumo que não. Usámos (usamos) recursos digitais num modelo pedagógico assente no magister dixit.
Poderia ter sido de outra forma? Provavelmente não.
Geraram-se comunidades de prática, grupos de pessoas que compartilham uma preocupação ou paixão por algo que fazem e aprendem a fazê-lo melhor à medida que interagem regularmente (Wenger, 2014 citado por Bates, 2019). As comunidades também parecem ser uma maneira eficaz de as organizações lidarem com problemas não estruturados e compartilharem conhecimento fora dos limites estruturais tradicionais. (Smith, 2003, Bates, 2019).
Estas comunidades de práticas constituíram, e constituem, como que um balão de oxigénio para os problemas, inicialmente tecnológicos e depois pedagógicos, que fui enfrentando.
Questionei sistematicamente o que estava a fazer. Fui falando com os meus alunos e colegas.
Este foi também o encerramento das escolas que me despoletou para o regresso a uma instituição do ensino superior a fim de encontrar uma maior bagagem científica, pedagógica, técnica e tecnológica para desenvolver um processo de ensino-aprendizagem mais eficaz e eficiente, agora posso dizer, rumo a uma educação digital de qualidade.
A Educação Digital é sim, entendida como um movimento entre atores humanos e não humanos que coexistem e estão em comunicação direta, não mediada pela representação, em que nada se passa com um que não afete o outro. Na perspectiva do humano, resulta em apropriação, no sentido de atribuição de significado e o desenvolvimento de competências específicas, vinculadas aos processos de ensinar e de aprender em contexto de transformação digital. (Moreira, J.A.&Schlemmer, E., 2020),
Tenho já, neste momento, a convicção clara do modelo virtual de aprendizagem a implementar num ambiente que voltou a ser predominantemente físico? Ainda não! Mas tenho ideias mais sustentadas em modelos híbridos (rotação, por exemplo) ou em modelos que clarificam a construção de comunidades virtuais de aprendizagem, modelo e-moderating de Salmon, por exemplo:
(Moreira et al., 2020).
A aprendizagem é realizada ao longo da vida
Referências bibliográficas
Bates, A. W. (2019). Teaching in a digital age. 2nd Edition. Vancover: Tony Bates Associates. Obtido de https://pressbooks.bccampus.ca/teachinginadigitalagev2/.
Gomes, M. J. (2008). Na senda da inovação tecnológica. Revista portuguesa de pedagogia,p. 181-202. Obtido em 11 de 04 de 2019, de http://impactum-journals.uc.pt/rppedagogia/article/download/1243/691/0.
Moreira, J. A., Henriques, S.; Barros, D.; Goulão, M.F.; Caeiro, D. (2020). Educação Digital em Rede: princípios para o design pedagógico em tempos de pandemia. Universidade Aberta. Obtido de DOI 10.34627/rfg0-ps07.
Moreira, J. A.; E. Schlemmer (2020). Por um novo conceito e paradigma de educação digital onlife. Revista UFG. 10.5216/REVUFG.V20.63438
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