Relatório - Deambular pela Avaliação em Contexto de eLearning – Notas reflexivas do Diário de Bordo de uma professora/mestranda
2021
Ao longo do mês de março – Expetativas sobre a unidade curricular
“Avaliação em contexto de eLearning”
Aguardo a abertura da UC.
Como num flashback, revejo o meu percurso docente com mais de 30 anos e mantenho a convicção que discutir sobre Avaliação não é fácil. Incomoda, faz tremer o tecido escolar e, para muitos professores, significa perder poder. Assim, podia ter começado esta reflexão por: “Não mexam na minha avaliação”, ou “Nas notas mando eu" e a minha frequência neste Mestrado nem sequer teria sido equacionada. Tudo teria ficado na mesma. Bem, na verdade não é bem assim, de permeio surgiu o encerramento das escolas e (re)inventei instrumentos de avaliação. Credíveis e funcionais? Como realizar a avaliação no ensino remoto de emergência? Como desenvolver práticas de avaliação digital? O que estou a criar faz sentido? Sabia que as respostas deveriam ser procuradas ‘mais além’ e inscrevi-me no Mestrado.
Aguardo com muita expetativa a abertura desta UC.
Como num flashback, revejo o meu percurso docente com mais de 30 anos e mantenho a convicção que discutir sobre Avaliação não é fácil. Incomoda, faz tremer o tecido escolar e, para muitos professores, significa perder poder. Assim, podia ter começado esta reflexão por: “Não mexam na minha avaliação”, ou “Nas notas mando eu" e a minha frequência neste Mestrado nem sequer teria sido equacionada. Tudo teria ficado na mesma. Bem, na verdade não é bem assim, de permeio surgiu o encerramento das escolas e (re)inventei instrumentos de avaliação. Credíveis e funcionais? Como realizar a avaliação no ensino remoto de emergência? Como desenvolver práticas de avaliação digital? O que estou a criar faz sentido? Sabia que as respostas deveriam ser procuradas ‘mais além’ e inscrevi-me no Mestrado.
Aguardo com muita expetativa a abertura desta UC.
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30 e 31 março/5 abril
Abre a UC.
São duas docentes que nos irão
acompanhar: Lúcia Amante e Elizabeth Souza. Aprecio o Contrato de Aprendizagem.
Dúvidas esclarecidas.
1 a 12 de abril - Tema
1: Avaliação Pedagógica - Atuais perspetivas
A partir da análise do texto de Pinto, de leitura
agradável e motivadora, selecionei as duas ideias fortes solicitadas alicerçadas
no meu percurso profissional e académico:
i.
Persistência da hegemonia da avaliação das aprendizagens no processo educativo, ancorada nas primeiras
gerações.
ii.
Mudar paradigmas, modelos pedagógicos e vencer resistências,
caminhando para uma verdadeira avaliação contínua e formadora centrada numa
diversidade de instrumentos de avaliação ligados a tarefas distintas, às quais
foi dado um feedback de qualidade (formativa) com vista à reflexão e melhoria
da aprendizagem e à posterior valoração (sumativa).
A avaliação da
aprendizagem transmuda para avaliação como
e para as aprendizagens, em que a
centralidade do processo deixa de ser um exclusivo do professor para ser um ato
partilhado e colaborativo entre os vários agentes, professor, alunos, tutores… (autoavaliação,
metacognição, avaliação a pares) e assente em critérios conhecidos (rubricas).
Esta é uma abordagem socioconstrutivista, assente no papel mediador e
orientador do professor e na autorregulação das aprendizagens por parte do
aluno
A discussão no Fórum foi rica. Colocar uma turma, composta por
indivíduos com percursos profissionais distintos, a falar a mesma linguagem
significa encontrar entendimentos (não é sinónimo de concordância) numa área em
que existe uma floresta de significados para os mesmos vocábulos. Debatemos
muito e sei que contribuí para a reflexão coletiva em que procurámos encontrar
o sentido das múltiplas triangulações que Pinto desenvolve:
saber/professor/aluno; ensinar/formar/aprender e avaliação
sumativa/formativa/formadora.
12 de abril a 3 de maio - Tema 2: Avaliação Pedagógica Digital em
Contextos de Elearning
Trabalho de grupo desenvolvido com a Ana Couto, Paula Pedroso e
Virgínia Moreira. Considero que em grupo recrudesce a motivação, reflexão e a
aprendizagem e quando os elementos desenvolvem um trabalho colaborativo
autêntico é fantástico. Afinámos os canais de
comunicação (WhatsApp, GoogleDrive, Zoom) e o trabalho fluiu.
Três textos para analisar a avaliação pedagógica e modelos
teóricos de avaliação em contextos de eLearning. O nosso artefacto digital foi
construído no Genially e considero-o
claro, dinâmico, informativo e reflexivo. Destaco algumas das suas linhas de
força:
- Avaliação como parte integrante do processo de design de
instrução. Relevância das CAT (Classroom Assessment Techniques (Porto, S.,
2005).
- Modelo ADDIE - análise, design, desenvolvimento, implementação e
avaliação (Porto, S., 2005)
- Diversificação dos instrumentos de avaliação (Lagarto, J., 2009).
- Abordagem edumétrica para avaliação de competências em
substituição do paradigma psicométrico (Pereira, A., Oliveira, I., Tinoca, L.
& Amante, L., 2015), onde a avaliação munida de um bom feedback e ancorada
em rubricas possa ser uma ferramenta ao serviço das aprendizagens.
- Desenvolvimento da Avaliação Alternativa Digital assente nas 4
dimensões do modelo PrACT (Pereira, A., Oliveira, I., Tinoca, L. & Amante,
L., 2015): praticabilidade, autenticidade, consistência e transparência.
Retenho da discussão no fórum a relevância que
atribuímos à construção de rubricas e ao feedback de qualidade.
10 a 28 de Maio – Tema 3: Instrumentos de
Avaliação Pedagógica em Contextos de eLearning
Nova atividade de grupo e mantivemos o mesmo o
que foi excelente pois respeitamo-nos, valorizamo-nos e desafiamo-nos
intelectualmente (a Paula saiu da UC por ter equivalência).
Apreciei bastante esta proposta de trabalho por
me permitir ‘ver’ no terreno como aplicar a avaliação alternativa digital.
Discutimos bastante sobre o instrumento a usar e dedicámos muitas horas na
pesquisa de um caso real. Partimos da ideia de não escolher um instrumento já
selecionado por outro grupo de trabalho para que pudéssemos, em turma, ter mais
informação e consequentemente maior discussão. Optámos pela Wiki sabendo que
caminhávamos num terreno que nos foi hostil no início do Mestrado e que só a Ana,
numa outra UC, já havia vagamente trabalhado. Escolhemos um caso real sobre a aplicação de uma Wiki numa turma de 6.º
ano. Para nós fez todo o sentido: usar o mesmo instrumento do nosso caso real.
Criámos a
Wiki: um instrumento de Avaliação Pedagógica em Contexto de eLearning e analisámos a “interação desenvolvida em ambiente wiki entre o professor e os alunos e entre os alunos” (Dias, P.
& Oliveira, I, 2016). Considero que este foi o trabalho mais criativo e
original que desenvolvi nesta UC. Criámos um instrumento dinâmico, apelativo,
inclusivo e criativo. Para tal, além da Wiki com áudios, criámos um vídeo
inicial com a função de captar a atenção dos nossos
colegas e professoras e um Escape Room que permite a cada um regular a sua
aprendizagem.
Tivemos um debate muito animado e enriquecedor.
Os outros grupos partilharam os seus instrumentos: e-portefólio e mapa
concetual o que permitiu dilatar o meu conhecimento e percecionar
possibilidades de aplicar diferentes instrumentos de avaliação em contexto
eLearning.
31 de maio a 30 de junho - Tema 4: Procedimentos e Critérios de Avaliação
Pedagógica num Contexto Online
Mantivemos o grupo de trabalho.
Esta última atividade serviu para mobilizar as aprendizagens
desenvolvidas ao longo da UC e consistiu em delinear a avaliação pedagógica,
definindo o design de avaliação de um módulo de formação com base no modelo PrACT de avaliação digital alternativa (Pereira et
al., 2015; Amante et al., 2017).
Desenhámos um cenário sobre um tema atual e relevante – Cidadania Digital - passível de aplicação em contexto real e
destinado aos alunos do 3.º ciclo. Construímos a atividade numa ‘roupagem mais
formal’ por considerarmos tratar-se de um documento para uma entidade / órgão
responsável pela sua aprovação. Apesar de reconhecer que meia centena de
páginas possa ter um certo primeiro efeito dissuasor, estou igualmente convicta
que a sua leitura é prazerosa, como disse o colega Jardel Garcia. Em cada um
dos módulos é indicado: objetivos, atividades de aprendizagem, instrumentos de
avaliação, duração e tipologia da avaliação. Os cenários de aprendizagem foram
pensados para decorrerem num ambiente hibridizado, com momentos de
presencialidade física e digital, síncronos e assíncronos, devidamente
programados num cronograma. A construção de rubricas envolveu um grande esforço
da nossa parte pois encontrar bons critérios e percetíveis a alunos do 3.º
ciclo, aliado à nossa inexperiência, não foi fácil. Do retorno que tivemos no
debate com os colegas, julgo termos conseguido construir rubricas eficazes.
Quisemos percorrer vários instrumentos de avaliação digital – Fórum, Wiki,
Pechakucha, Mapa Concetual e e-Portefólio, porque entendemos que na avaliação
alternativa digital subjaz esta diversidade e quisemos saber mais sobre cada
um, vislumbrando as suas possibilidades de aplicação. Acrescento que estes
instrumentos visam a avaliação de competências e estão associados à Educação
Digital. Entendemos criar momentos de avaliação por pares e de autoavaliação, à
semelhança do desenvolvido connosco nesta UC, e que considero serem momentos
muito relevantes de regulação do processo de aprendizagem. Já o faço na minha
prática mas estou agora mais esclarecida. Estabelecemos a avaliação do
professor como um procedimento contínuo associado às aprendizagens, “avaliar
para aprender” e acompanhado da disponibilização de feedback.
Aplicámos o Modelo PrACT assumindo a
substituição do paradigma da cultura do teste pela cultura da avaliação,
desenvolvendo uma abordagem edumétrica assente na sustentabilidade das práticas.
A discussão no Fórum foi interessante.
Envolvi-me bastante, contribuindo para o debate, esclarecendo opções tomadas e
mudando, em grupo, alguns aspetos do nosso trabalho que foram devidamente
apontados pelos colegas.
Este foi o trabalho mais complexo que
desenvolvemos e perspetivo-o como um ‘fechar’ das aprendizagens que iniciámos
em abril.
11 de julho - Reflexão final
Deambulei nesta UC com a clara convicção da sua extrema utilidade na
minha prática docente. Esta foi uma das minhas expetativas iniciais.
Neste tempo praticamente final, considero que as aprendizagens
desenvolvidas individualmente e no seio do meu grupo de trabalho, as práticas
consubstanciadas em atividades, a discussão coletiva viva e produtiva mantida
nos Fóruns e o feedback e apoio contínuos das duas professoras foram os
elementos determinantes para alcançar os meus objetivos pessoais em comunhão
com o Contrato de Aprendizagem da UC.
Envolvi-me muito nesta UC, num esforço contagiante e contagioso de quem
quer assimilar tantos novos conceitos e ideias de investigadores (e.g.
paradigma sociométrico, avaliação alternativa digital, instrumentos de
avaliação digital, modelo PrACT) através de várias leituras e de discussões com
o principal objetivo de os poder aplicar na minha prática. Entendo que estou
hoje melhor capacitada científica, pedagógica e tecnologicamente e mais apta a
criar cenários de aprendizagem híbridos que envolvam uma avaliação para e como
aprendizagem ancorada nas dimensões do modelo PrACT. Uma avaliação de pendor
humanista com lugar para todos os agentes do processo: professores, alunos,
tutores, mentores…
Se já antes incluía na minha prática momentos de autoavaliação e de
avaliação por pares, perceciono melhor agora que estes fazem mais sentido numa
lógica contínua e não de final de período.
Se já antes diversificava os instrumentos de avaliação, perceciono
melhor agora que o ‘peso’ atribuído aos testes pode e deve ser melhor equilibrado
com os restantes elementos recolhidos.
Se já antes usava o feedback oral e escrito, perceciono agora melhor a
sua função norteadora e orientadora do percurso do aluno, devendo, na medida do
possível, ser personalizado e ocorrer ao longo do processo.
Entendo agora a relevância das rubricas de avaliação na promoção de uma
avaliação mais autêntica e transparente ao serviço das aprendizagens.
Entendo agora a existência de modelos, como o PrACT que
contribui para a definição de um padrão de
qualidade das estratégias de avaliação em diversos níveis de ensino e
contextos, sejam eles totalmente virtuais, híbridos ou mesmo presenciais. A sua
aplicação permite ao docente sustentar o desenho instrucional das suas
disciplinas, assente num conjunto de princípios que promovem a integração da
avaliação na aprendizagem (assessment for learning) e a relação desta com a
vida real e profissional, bem como o envolvimento dos estudantes no processo,
deixando assim de ser algo exterior à sua aprendizagem.” (Amante, L., Oliveira,
I., & Pereira, A., 2017, p. 147).
Mudar velhos hábitos de agir e pensar, como dizia Fernand Braudel sobre
a História das Mentalidades, não é tarefa fácil. A Escola é um espaço
conservador que resiste à inovação e os professores receiam mudanças
disruptivas que confrontam as suas práticas. Porém, penso que vivemos uma
conjuntura propícia ao questionamento e revisão dos cenários pedagógicos ainda
muito ancorados em gerações behavioristas e cognitivistas de forte pendor
instrucional. O ensino remoto de emergência que fez tremer o edifício escolar,
a proliferação de formações inteiramente online, a afirmação do modelo
pedagógico virtual da UAb, a expansão do digital que possibilita a integração
de novas ferramentas que poderão estar ao serviço da aprendizagem colaborativa,
da interação/conectivismo e do desenvolvimento das competências do PASEO, são
fatores que poderão potenciar a mudança que urge ser feita.
Por último, quero deixar o meu maior agradecimento:
- ao meu grupo de trabalho: Ana Couto, Paula Pedroso e Virgínia Moreira
– colegas virtuais que se transformaram em âncoras solidárias e amigas. Sem
elas todo o percurso neste Mestrado seria bem mais difícil;
- à minha turma virtual que soube desenvolver valores assentes no
respeito e partilha;
- às duas professoras desta UC que delinearam um Contrato de Aprendizagem
que possibilitou a minha aprendizagem em cenários diferenciados e com uma
pluralidade de instrumentos de avaliação, e estiveram sempre presentes ao longo
do processo, fornecendo feedback de qualidade após cada atividade o que
permitiu a minha melhoria.
Obrigada.
Referências Bibliográficas
Amante, L., Oliveira, I., & Pereira, A. (2017). Cultura da avaliação e
contextos digitais de aprendizagem: o modelo PrACT. Revista docência e
cibercultura, pp. 135-150. Disponível em https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/re-doc/article/view/30912.
Dias, P.
L., & Oliveira , I. (2016). Avaliação formativa em ambiente wiki: regulação
e feedback. Em L. Amante, & I. Oliveira, Avaliação das Aprendizagens: perspetivas, contextos e práticas (pp.
99-130). Lisboa: Universidade Aberta-LE@D. Disponível em https://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/6114/1/ebookLEaD_3%20(2).pdf
Lagarto, J. R. (maio de 2009). Avaliação em
e-learning. Educação, Formação &tecnologia. pp. 19-29,. ISSN 1646-933X
(educom.pt).
Pereira, A.,
Oliveira, I., Tinoca, L., Pinto , M., & Amante , L. (2015). Avaliação
alternativa digital: conceito e caracterização. Em Desafios da avaliação digital no Ensino Superior. (pp. 6-34).
Lisboa: Universidade Aberta. Disponível em
https://repositorioaberto.uab.pt/handle/10400.2/5774.
Pinto, J.
(2016) A avaliação em educação: Da linearidade dos usos à complexidade das
práticas. Em L. Amante & I.Oliveira (coords) Avaliação das
Aprendizagens: Perspetivas , contextos e práticas. Lisboa:
Le@D, Universidade Aberta (3-40). Disponível em https://repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/6114/1/ebookLEaD_3%20(2).pdf
Porto, S. C.
(2005). A Avaliação da Aprendizagem no Ambiente online. Em R. V. Silva e A. V.
Silva, Educação, Aprendizagem e
Tecnologia (pp. 140-161). Edições Sílabo. Lisboa.
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